quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Burocracia

Se, um dia destes, forem fazer uma operação bancária e vos perguntarem que número calçam ou quanto pesam, não se admirem.
Eu fui hoje, com a minha filha mais velha, a uma dependência de um dos bancos com quem trabalho para a tornar titular da minha conta à ordem. O funcionário, com um ar lavadinho e engomado, começou logo por me perguntar se eu me faria acompanhar dos documentos necessários. Simulei um sorriso e dispus-me a saber quais seriam. E o funcionário enumerou eficientemente: para além do BI e do NIF, precisava também de um comprovativo da morada e de um comprovativo da entidade patronal. Sorri, incrédula. Mas se nada muda, a não ser a inclusão da cachopa na minha conta, para que eram necessárias tantas coisitas?! O funcionário, com ar lavadinho e engomado, fez questão de me frisar que eram as directrizes do Banco de Portugal, não fosse eu achar que ele se estava a exceder. E não está. Quem se excede é o mundo!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ai,ai...

A filha número um chegou há pouco de umas curtas férias, junto do namorado. Com esta ausência - como é apanágio de qualquer uma -, desenvergonharam-se entre nós, na sua volta, as manifestações de afecto, que se escondem na rotina de uma vida em comum. Especialmente numa vida em comum entre pessoas tão diferentes, como somos eu e ela. A mais nova delirou com o facto de ter a oportunidade de ocupação do espaço e do espírito dos elementos da casa só por ela...

Cidadania

Na actividade autárquica, agradam-me sobremaneira as tarefas inerentes à partilha de ideias, à preocupação na procura de soluções/sugestões a apresentar ao executivo, à picardia de pequeno grupo, em que se tenta brilhar pelo colectivo, nas reuniões das Comissões Específicas. Já a solenidade de circunstância, inerente às sessões da Assembleia Municipal de que faço parte, agasta-me e desgasta-me, principalmente porque a maioria absoluta do partido do executivo inviabiliza alguma posição que não evidencie a eficiência da autarquia.
Admito que, ao preferir o trabalho realizado nas Comissões Específicas, que objectiva o bem estar da população do meu concelho e longe da projecção dada pela comunicação social, rejeitando o protagonismo de grandes tiradas de retórica na Assembleia Municipal, revelo uma total ausência de ambição política, que nunca me levará a cargos destacados.
É verdade que, para além do partido que me fez eleger como independente, já outros manifestaram vontade de me incluir nas suas listas às próximas eleições. Quero acreditar que o fizeram pelo meu empenho e não pelas quotas que exigem um número preciso de mulheres.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Ena!

Escrevia-me, num dos e-mails que trocamos com alguma frequência, um amigo de longa data e muito querido (e que, por sinal, faz maravilhas com as palavras!) que sentia que eu tinha muito para lhe dizer, para lhe contar e que podia fazê-lo amiúde. Fiquei vaidosa e ainda não tive coragem de lhe contar que sou uma senhora de meia idade, muito desinteressante e com a vida mais banal e singela que se possa imaginar... Afinal, não virá mal ao mundo de alguém achar, por uns dias, que tenho assim taaanta importância...

Solidão?

No outro dia, um colega referiu que são as pessoas que mais fazem para unir os outros que mais sozinhas se sentem. Na altura, registei a afirmação e, mais tarde, deixei que ela tomasse conta de mim.
Ando sempre a tentar cuidar das filhas, dos pais, dos alunos, a impedir que se sintam desamparados, descuidados. Acho que essa azáfama é o que me impede de me sentir só.
Não, não estou triste. Por enquanto.

Infelicidade

Não, não vou falar de Natal, nem de neura (até me portei bem, este ano...), nem de remorsos de ter comido demais...
Tenho uma amiga, que conheci porque ela é casada com um ex-amigo do meu ex-marido (tenho sempre uma certa dificuldade em chamar-lhe "marido", ainda que seja ex, mas enfim...) e de quem gosto muito, que me dá a certeza do meu estado de graça. Passo a explicar. O tal ex-amigo do outro, e marido da minha amiga, tem uma doença do foro neurológico que, apesar dos seus cinquenta anos, lhe envelheceu o cérebro e o impede, por exemplo, de se recordar se almoçou ou não. Para além disso, tem diabetes e esquizofrenia, que o faz ter algumas atitudes mais violentas. A minha amiga sempre cuidou dele e dos pais dele, que faleceram há pouco tempo. Recentemente, a mãe dela foi operada à vesícula e a pobre da minha amiga nem tinha tempo para ir falar com o operador da mãe ao hospital, porque tinha de trabalhar, sendo ela o único sustento da casa. O filho, estudante universitário em Lisboa, pouca disponibilidade tem para apoiar a mãe e a irmã, menina doce, de treze anos, que recusa afastar-se da mãe porque a sente amargurada e infeliz. A cereja no cimo do bolo foi o internamento compulsivo do marido, que coincidiu com o pós-operatório da mãe, num hospital psiquiátrico da capital, devido a uma crise de esquizofrenia violenta...
E ainda há alturas em que me sinto infeliz!