domingo, 27 de setembro de 2020

Só agora consegui, mãe...

 Desde que este mundo é nosso, a vida e a morte são irmãs que andam de mão dada, que não passam uma sem a outra. Não estão em pé de igualdade: assim que nascemos, podemos morrer; logo que morremos, não podemos nascer. 

Se vivemos mais ou menos, melhor ou pior, intensamente ou como um rio aprisionado nas margens, cada um sabe de si. Ou não.

Ser humano é poder experienciar emoções, vivências, doenças, fruir o tempo como podemos ou apenas como ele nos quer deixar viver.

Estes são tempos estranhos, dolorosos e intensos para mim. Acredito que não sou a única. Afinal, para todos nós, começa a ser banal vermos a vida e a morte de mãos dadas, olhando-nos de frente.

Às vezes, o único consolo é gritar ao coração que o amor permanece, que, quando alguém parte, pode ser o maior e derradeiro ato de generosidade para connosco.

No dia dos meus anos, foi a última vez em que eu e a minha mãe estivemos juntas. Voltei a vê-la na véspera da sua morte, mas ela já não esteve comigo.

Agora, está por aqui, ao jeito, quando eu preciso.