Quase um ano depois da morte da minha mãe, só agora me foi tempo de tocar as suas roupas para as doar.
Nos seus armários, jaziam o que ela comprou, o que ela costurou e o que ela acareou da minha avó e da minha tia-avó, há já tanto desaparecidas. Que a minha mãe era assim, gostava de recordações, tinha gosto em usar o que tinha sido dos seus.
Então, enchi sacos, previamente comprados para esse fim, grandes e negros, como teria de ser, telefonei para a instituição que recolhe doações e, no final, num relance, sem ânimo para contemplações, pensei em como a vida de uma pessoa se resume a uns quantos sacos, grandes e negros, repletos de roupa, à espera de ver a luz do dia noutros corpos, vivos ainda.
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