Ouviam-se diversas línguas, em vários tons; os semblantes eram vários e alguns espelhavam, claramente, os motivos da viagem: descontraído, de quem ía em lazer; apreensivo e/ou preocupado, de quem supus que fosse trabalhar ou, pelo menos, desempenhar uma missão menos prazerosa.
Fiquei muito tempo perdida no bebé que estava à minha frente, sentado no carrinho e que viajava com os pais. Teria um ano, se tanto, e os seus grandes olhos azuis e boquinha de botão de rosa puseram-me a conjeturar, longamente, se era menino ou menina. Fez-me lembrar as minhas filhas (e só por isso já valeu a pena encontrá-lo naquele comboio!) e revivi aquelas duas meninas, tão minhas e tão diferentes em tudo. Os pais do bebé, tal como a maioria dos passageiros, também observavam com atenção um telemóvel e, de quando em vez, brincavam com o filho, que lhes sorria satisfeito.
Deixem o telemóvel! Brinquem com o vosso filho lindo! O tempo voa e ele nunca mais é bebé! - apeteceu-me dizer-lhes. Mas não disse. E eles regressavam sempre ao telemóvel.


Sem comentários:
Enviar um comentário