Acompanhei a minha mãe na doença, durante toda a minha vida. Dei conta da deformação dos seus ossos; de como se refugiava na comida, seu único consolo, por vezes; de como se amava cada vez menos, se cuidava cada vez menos e, por isso, se tornou infeliz e amarga, enquanto nos hostilizava e parecia que culpava por termos saúde. A quem mais poderia ela mostrar o seu desalento?
Porque já estava em casa, o meu pai assumiu, também, os seus cuidados e, com mais ou menos empenho , mais ou menos energia, velava pelo seu conforto.
A minha mãe precisa descansar, já partiu e, agora, o meu pai já não cuida dela, é um velhinho acabado, curvado e que caminha com passinhos hesitantes, consequência da doença de Parkinson que o atormenta há anos.
Ter por perto os pais, durante a maior parte da nossa vida, é um privilégio. Mas só quando não os vemos perder faculdades e ganhar comorbidades, atirando-nos a consciência da sua/nossa finitude e da nossa impotência para os poupar.
Dantes, da janela, olhava o meu pai a trabalhar na horta e a ternura e já a saudade faziam-me sorrir. Hoje, não há horta sequer, há somente um pai com muitas limitações, triste e envergonhado com a sua decrepitude.
Então, à felicidade da sua companhia, junta-se a tristeza e a impotência para o poder salvar da doença, do desânimo, da dependência.



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