sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Velhice

Viver com um idoso deveria ser obrigatório para todos os humanos. É preciso ter consciência do que nos espera mal nascemos e em que só cremos lá muito à frente na vida. 

Acompanhar o crescimento da velhice e perceber o desânimo de quem tem consciência da perda das suas faculdades é uma tarefa hercúlea, desmotivante e impactante, especialmente se o velho é o nosso pai.

Tive também a oportunidade de acompanhar a minha mãe na doença, o que não foi fácil. 

Tenho quase 61 anos e vejo a minha velhice lá ao fundo, à espreita, a esfregar as mãozinhas ossudas e de risinho maléfico, pronta a amedrontar qualquer um.

Não me apetecia muito aumentar as maleitas, nem depender de ninguém para sobreviver. Todavia, será esse, certamente, o meu destino, como o de todos os idosos que conheço. E isso é assustador!

Até lá, vou aproveitando os momentos bons com o meu pai e reclamando do que nele me agasta, porque também isso é amor. 


quarta-feira, 30 de julho de 2025

"Casamento" feliz

 


A parceria entre mim e a biblioteca municipal tem muitos anos já.
Começou quando eu, enquanto professora de português, achei importante implementar visitas sistemáticas à biblioteca, primeiro nas aulas de Estudo Acompanhado, depois nas aulas de Língua Portuguesa. Desafiei os meus colegas de 3.º ciclo e todos alinharam sempre. A autarquia começou por premiar os melhores leitores, ou seja, os miúdos que mais livros da biblioteca requisitavam, na atividade Roteiros na Biblioteca, ou fora dela.
Depois, aliamos a articulação entre as disciplinas de Português e Educação Visual, ilustrando as obras estudadas e continuando com as visitas sistemáticas à Biblioteca Municipal. O prémio é sempre o passeio que a Câmara Municipal de Benavente oferece aos trabalhos mais criativos, expondo-os, todos os anos, por lá.
Fica o testemunho de uma das primeiras visitas, ao Badoka Park. A primeira de todas foi a Coimbra, à Mata de Vale de Canas. Mas fomos ao Zoo Marine, à Praia das Rocas, a Sesimbra numa viagem de barco com o casco transparente...
Atualmente, vistamos sempre uma biblioteca municipal noutra localidade e, depois, vamos à praia. Os nossos alunos adoram, compreendem melhor a importância das bibliotecas municipais e veem o fruto do seu trabalho recompensado.
Este é um "casamento" duradouro e feliz! 



segunda-feira, 28 de julho de 2025

Obrigada!

 





A terra continua a girar, vivemos em paz e podemos ir à praia, apesar do vento, se nos apetecer.

Ah e tal, hoje estou mais triste, mais agastada com a vida, bora lá irritar-me com o trânsito, chamar nomes ao homenzinho petulante que passou à nossa frente na fila da caixa de supermercado e achar o vizinho ainda mais parvo por não ralhar com o cão que ladra continuamente e a desoras!...

É nestes momentos que olho à minha volta e reflito sobre o número exagerado de pessoas que conheço e a quem foi diagnosticada uma doença grave, outras que já não estão entre nós e como tudo é relativo.

Apesar do aumento das dores no esqueleto e da minha capacidade de trabalho estar mais reduzida, a vida ainda é muito bonita e estou muito grata por tudo o que me foi oferecido pelo universo, até à data.

Obrigada!



terça-feira, 12 de novembro de 2024

Coisas pequeninas

 

Um céu rosado ao final do dia.

O cheiro a terra molhada no início de um aguaceiro.

Uma gargalhada vinda do fundo de nós.

O sabor de uma ameixa sumarenta a escorrer pelos lábios ávidos de magia e de cor.

O trautear daquela música dos nossos anos primeiros, que passa na rádio, quando estamos a conduzir.

O sorriso da nossa criança preferida, seja ela qual for, num momento qualquer.

Os dedidnhos do nosso neto.

São também estas coisas pequeninas que nos fazem felizes e ajudam a preencher os nossos dias.   

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Despedidas que fazem falta

 





Saudade é usar expressões que só tu usavas; é sorrir com alguma lembrança terna; é deixar de sorrir quando te recordo enfermo e a sofrer.
Quase 4 anos sem ti parecem-me mentira. Quando partiste, os funerais eram à pressa e não se permitiam despedidas.
Acho que nunca me despedi. E isso faz-me tanta falta como tu.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Amigos

 

                                                   (imagem retirada da Internet)

Ah, os amigos, esses entes que nos amparam e nos ajudam a ser!...

Diz-se que os amigos são a família do coração, a que escolhemos para comprovarmos a nossa humanidade.

Amigo é também casa, é aconchego e abrigo. Mas também pode ser dor e desilusão e desencanto. 

Os amigos crescem connosco, até mesmo quando somos grandes, porque se vão renovando ou substituindo por outros que nos enlaçam mais, naqueles momentos. Há amigos para toda uma vida. E há amigos para um só momento.  

E isso é a vida a acontecer.


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Estamos diferentes e somos iguais

 

Acabadinha de chegar de uma visita de estudo á Galiza de 3 dias, cansada, contudo feliz, chegou a altura da reflexão sobre o acontecido.

Já tinha, por diversas vezes, acompanhado alunos em viagens ao estrangeiro. Não recentemente, é certo, mas já tinha tido a grata experiência de partilhar momentos diferentes e intensos com os jovens da minha escola. Confesso, que, ultimamente, a vontade não tem sido muita... Já tivemos uma pandemia, acompanhamos o quotidiano de 2 guerras sem sentido e todos sentimos que estamos diferentes. Seja pelo imediatismo da informação, seja pela vida a acontecer tão somente, estamos diferentes, mais reativos, demasiado sós entre multidões, outros, em suma.

Dantes, em circunstâncias semelhantes à desta viagem à Galiza, alunos e professores despiam-se dos seus papéis e tornavam-se profundamente amigos. Ao regressarem à rotina, tudo e todos se acomodavam de novo nas salas de aula, nas atividades escolares, mas a ternura encontrada permanecia, dando-nos ainda mais motivos para sermos inteiros nesse mundo que é uma escola. 

Tive receio que, desta vez, assim não fosse. Afinal, já passamos por tanto, já mudou tanto o nosso mundo. 

Mas não. Este grupo de 53 alunos e 5 professoras falaram sempre a mesma linguagem e a magia aconteceu: foram momentos inesquecíveis, para nós adultas e para eles, adultos em projeto.

Obrigada, alunos e colegas!

Estamos diferentes, mas somos iguais! E ainda bem!

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Perspetiva

 

Visto do alto, o homem é um pontinho que teima, teima até se alongar num travessão final.


Nota: esta publicação pode ter a ver com a tarefa de classificação de provas em que me encontro. 

terça-feira, 27 de junho de 2023

Luz

 

Lugares de luz são os que nos aconchegam a alma e o coração. Neles, o ar é mais fresco e puro e as cores são firmes e intensas. Os risos são pássaros livres de boca em boca e nunca faltam poisos para eles nos nossos peitos. 

Lugares de luz são raros, mas existem quando nos juntamos com quem cintila connosco e em nós. 

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Este nosso maravilhoso mundo

 








Foram cores, sons, sensações.

O vento  sussurrava nas águas do rio, querendo provar a sua vontade: ali, ele é rei e, junto com o sol e o céu, faz do rio uma casa para as aves e para os peixes.

Os mochões são guardiões desta vida que pulula. É lá que os cavalos, curiosos, nos olham quando nos aproximamos. Os gansos aconchegam-se na pequena enseada. Cautelosos, vão andando, em passinhos curtos, mas seguros e sôfregos. Levantam. finalmente, voo, numa poesia inesperada.

Os salgueiros tombam, lânguidos, acariciando sempre as águas revoltas.

Mais além, no escarlate do céu, uma íbis negra desafia ventos e marés, certa de que aquele mundo é o seu.

Os dois cisnes, de um branco inesperado e brilhante, ondulam, ao longe, São a alegria súbita no cinzento das águas.

E quando a embarcação parou, no meio do rio, a nossa alma foi inundada de mundo. Tudo fez sentido e fomos felizes.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Dádiva

 



Tenho a felicidade de trabalhar em locais onde o melhor e o pior do ser humano se revela. E, quando o melhor acontece, é uma bênção poder dele fruir.

Numa parceria feliz, temos recebido a visita de utentes de uma instituição que vêm contar uma história aos nossos miúdos. São pessoas portadoras de várias deficiências e, apesar de confiar na essência dos nossos alunos, temos sempre algum receio de reações menos felizes.

Ora, numa dessas visitas, contámos com a presença da S. que, devido a uma doença degenerativa, cegou. A S. é duma correção e ternuras evidentes e, no decorrer da atividade, sentou-se junto da L. Quando os meninos foram convidados a pintar um desenho, com a ajuda das visitas, foi explicado à L. que a S. sabia pintar muito bem, mas que, como o desenho não era adaptado, iria precisar de ajuda. Então, a L. não hesitou, perguntou à S. a cor que queria usar, pegou-lhe na mão e a magia aconteceu!...

Tive vontade de chorar, mas a minha esperança sorriu e voltei a acreditar na bondade da humanidade. Obrigada, querida L.!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Diz que é ano novo...

 


Parece que mudou o ano e tínhamos que festejar, vestir roupa interior azul, comer passas e outras coisas mais, igualmente conhecidas e muito importantes, que só fazemos quando muda o ano. Todavia, o universo não sabe de nada disto, a chuva continuou a cair, como no ano anterior e hoje já brilhou o sol, como no ano passado.

Parece que, quando muda o ano, temos de fazer balanços da vida do ano passado, desejar coisas para este ano novo, irmos dando pistas ao mundo de que vai ser diferente, tem de ser melhor. 

E nós, faremos melhor? Seremos melhores? Seremos diferentes?

Vá, demos uma mãozinha a 2023 para que, mudando o ano ou não, possamos tornar este mundo, o nosso mundo, melhorzinho!...

E pelo sim, pelo não, Feliz Ano Novo!