Quando estive com uma prima, afastada mas cara, a semana passada, comentei com ela que, aquando do funeral da sua mãe o ano transacto, me impressionou bastante algo que presenciei no cemitério.
Contei-lhe, então, que estive mesmo para ir junto dela, passar-lhe o braço por cima dos ombros, quando estávamos junto da cova da mãe dela e a vi só, a engolir as lágrimas, torcendo o lenço abandonado nos dedos das mãos. O marido estava ao portão do cemitério e o pai - que nunca viveu com ela nem a acompanhou em momento algum, mas fez questão de ir ao funeral da ex-mulher - encontrava-se uns metros atrás, comentando algo, num tom de voz que rondava o incómodo para aquela situação. Como é filha única e a sua única filha tinha partido para França havia pouco tempo e estava grávida de uns bons meses, pelo que não pôde comparecer no funeral da avó, esta minha prima pareceu-me ali, naquele instante, o próprio rosto da solidão e já me dirigia a ela, quando uma tia, mulher de um seu tio, que vive no norte e raramente a vê, a enlaçou também e lhe murmurou palavras de consolo ao ouvido.
Fiquei muda e queda. Aquela tia, decerto tão afastada como eu, sentindo também, contudo, tal como eu o seu desamparo, fez o que os seus mais próximos não ousaram fazer. Talvez porque são homens. Talvez porque ela mostrava uma conformação absurdamente banal.
Quando lhe referi, a semana passada, tudo isto, olhou-me com olhos surpresos, pensou um pouco, depois de os baixar para as os dedos das mãos cruzadas e disse:
-Ah, isso não teve importância nenhuma...