Uma gota de chuva veio por aí abaixo e deixou-se ficar, muito quietinha, no vão de uma janela. Era uma janela de madeira pintada de verde, que abria para um quintal, onde vivia um grande limoeiro que tinha dois empregos: fazer sombra e perfumar tudo em seu redor. Quando se fechava, a janela agasalhava o quarto pequenino de um menino muito, muito espantado.
Este menino, que se espantava com o voar dos pardais, a azáfama das abelhas, a dança das borboletas e tudo o mais que o seu olhar fisgasse, espantou-se, também, com a pequenina gota de chuva que se fincou na janela pintada de verde.
Com os seus dedinhos curiosos, deu -lhe um piparote e, como a gota de água apenas estremeceu de desdém, decidiu o menino que os seus olhos ávidos e inquietos teriam muito que aprender ali, na sua janela, com esta gotinha de água orgulhosa.
Levantou a sua mãozinha rechonchuda, mirou-a de um lado e do outro, escolheu o dedo indicador - que era aquele que mais lhe servia para ir apontando o mundo à sua frente - e, senhor de si e do seu dedito decidido como ele, carregou com força na gotinha de água, que se desvaneceu na madeira da janela, a tal pintada de verde.
O menino, pasmado, aprendeu, ali, à sua janela de frente para o limoeiro que tudo perfumava, que aquilo que pensamos ser assim, pode, num ápice, passar a ser assado.
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