Devia ter uns 4 ou 5 anos e ia com a minha avó levar o almoço ao meu avô, que trabalhava numa bomba de gasolina. Distava da vila um quilómetro ou dois e tínhamos de passar por vários descampados. Era uma época em que ainda não estavam os campos vedados e podia-se fruir uma flor silvestre com todos os sentidos. A minha avó, no regresso, aproveitava para apanhar ervas para cozinhar. Serviam para temperar ou para fazer sopa. Eu surpreendia-me com a sua destreza a colhê-las, a sua capacidade de as distinguir e sentia-me muito orgulhosa por poder ajudá-la a fazer os molhos que levávamos para casa. Ela, pacientemente, explicava-me as suas utilidades, a forma de as colher, os melhores métodos para as conservar e mais uma miríade de informações que, lamentavelmente, a minha tenra idade não reteve até aos dias de hoje. Quando, já adulta, quis recuperar esse conhecimento, aproveitando a avó que me tinha cabido em sorte pelo destino, já não havia campos sem vedações ou, então, já não brotavam neles as tais ervas. Ficaram apenas presas na memória das sopas deliciosas e aromáticas que a minha avó cozinhava.
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