quinta-feira, 12 de março de 2009

Ausência

Quando Rita sentia os lábios dele nos seus, sentia também as suas mãos a segurarem-lhe o queixo com ternura. Era ele que se inclinava para a beijar, suavemente primeiro, depois como se o mundo fosse acabar naquele instante. Os movimentos dos lábios tornavam-se secundários, quando a mão dele descia até aos seus seios, insistente, no decote…
Acontecia sempre. Não uma nem duas vezes, mas sempre que pensava nele. Era a imagem presente, constante, com cambiantes em algumas ocasiões, mas que se repetia vezes sem conta, tantas quantas pensava nele.
Tinha sentido o toque dos seus lábios, há algum tempo atrás. Eram sempre doces e sôfregos os seus beijos. Depois, a escola, os amigos, a vida tinham-nos separado. Hoje, desejava-o acima de tudo e sonhava permanentemente com o seu toque…
Aquelas imagens… Não poderiam ser só sonhos, desejos, manifestações do seu corpo de adolescente, de quase mulher!
No início, a imagem era ela a chegar-se a ele, a olhá-lo no fundo dos seus olhos claros, a passar o polegar pelos seus lábios, beijando-o, finalmente, com doçura. Ele estava lá, à espera, surpreso, como se o querer fosse só dela.
Agora, a imagem era outra. Era ele que vinha junto dela, que lhe mostrava o seu carinho, o seu desejo…
Assim é a vida e apenas permite que sonhemos o que nos faria felizes. Era tão difícil ver passar cada dia, cada semana sem um sinal, sem um indício…
Ah, Rita, acorda, rapariga! A ausência de pistas não era se não a prova de que ele não sentia da mesma forma. Verbalizou-o nesse instante. E ficou tristemente aliviada. Então, em vez das mãos dele no seu rosto, acolhedoras e quentes, sentiu o percurso de uma lágrima, que parou nos lábios que há tanto esperavam os dele.


1 comentário:

Filo disse...

Quando a saudade não cabe mais no peito, transborda pelos olhos...