terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Souvenir

O meu pai trabalhou numa empresa francesa de transporte de mármores. Então, eu, desde catraia, ia com frequência à sede da firma, em Rambouillet.
Pelava-me por me perder no labirinto das pedras, cortadas em pequenos mosaicos e arrumadinhas em caixas de madeira ou em grandes placas, encostadas a uma armação de metal, com um corredor estreitinho entre elas, por onde eu marchava, corria, me escondia. Admirava-lhes os tons sarapintados ao acaso ou os seus raios, que rasgavam extensões de cores contrastantes.
Era ali que garbosos cavaleiros me vinham salvar ou que eu, guerreira intrépida enfrentava os mauzões para resgatar meninos, cidades, planetas inteiros, às vezes.
Ao fundo, do lado direito, havia uma única árvore. E como as caixas de mosaicos se encostavam debaixo dela, era fácil trepar aos seus ramos. E lá subia eu, permanecendo horas sentada numa pernada da grande nogueira, degustando nozes verdes e achando que o mundo era meu.
Ainda hoje gosto de nozes verdes.

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