quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Publicidade ao que é importante

 Cada vez mais, acredito que as aprendizagens dos meus alunos têm de ser significantes para eles e, na minha opinião, o trabalho de projeto propicia-o bastante.

Este ano, estranho e mau, deu origem a muitos desabafos e várias reflexões sobre a forma como levamos a vida e convidei os meus miúdos a selecionarem palavras, das quais, na sua opinião, valesse a pena, pela sua importância, tornarem-se os seus guardiões. A esse propósito ainda, e depois de estudarmos o texto de opinião e o argumentativo, propus a elaboração de um anúncio publicitário num projeto que envolvesse a técnica do Fanzine.

E cá estão eles. Orgulhão imenso nos meus meninos!










quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Simplesmente

 A lua continua a governar as noites e, quando é altura, ela brilha no céu. O sol, entristecido, dá o ar da sua graça. quando as nuvens atormentam outras paragens.

No entanto, nós já não temos abraços ternos, sentidos, para nos consolar ou entre gargalhadas. Eu deixei de pôr a mão no ombro dos meus alunos, quando me aproximo deles. Aliás, agora nem nos podemos aproximar dos nossos alunos. 

Assim, conforta-me a manta quentinha no sofá e o meu gato a dormir no meu colo, neste início  de inverno...




segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Sim, mas não...

Saramago imaginou a Península Ibérica à deriva no mar, na obra Jangada de Pedra. 

Saramago, o visionário, dá-nos uma imagem literal do que, metaforicamente, está a acontecer no nosso país: estamos a viver um momento assustador devido à pandemia; temos de implementar medidas excecionais... Ah, afinal, as medidas excecionais têm tantas exceções que fica tudo na mesma e, assim, continua tudo dependente de cada um de nós...

Quem poderá acreditar no que é dito, daqui para a frente, nas entidades oficiais?

Haja paciência! 




domingo, 25 de outubro de 2020

Vírus ao contrário

 Desta maleita que nos apoquenta e nos cerceia tanto e tanto, do que mais sinto falta é do toque.

Gosto de abraços, de beijinhos, de dar um piparote no ombro de um amigo quando me está a moer, de tocar no braço de um aluno quando me chegava junto dele para lhe dar uma explicação... Agora, nem junto dos alunos podemos estar, mas confesso que tenho de fazer um esforço hercúleo para disso me lembrar, quando me chamam, na aula...

Somos latinos, o toque faz parte do nosso ADN, das nossas rotinas, das nossas vidas. 

Para quando um vírus ao contrário, um que apele à solidariedade, à partilha, ao abraço?

 Tim Robberts/Getty Images 



 

Apostar na felicidade

 Não me ralo nada de ter a minha idade. Ela é minha, conquistei-a ao mundo, à vida, ao tempo. Nunca deixarei que atrasem a passagem dos anos pelo meu corpo! Cuido-me para ter saúde, provando que me amo assim, antiga e com os privilégios da antiguidade. 

Ter já muitos anos permite-me quase não fazer  fretes e, se os faço, é porque ainda acho que têm sentido. Também posso quase sempre escolher onde estou, com quem estou, durante quanto tempo...

Tenho a felicidade de amar a minha profissão, pelo que, ao fim destes anos todos, é raro o dia em que vou para a escola sem vontade e ainda retiro prazer de muitas das tarefas e atividades a ela inerentes.

Assim, nestes tempos estranhos e maus, que nada têm a ver com todos os anos todos que já vivi, precisamos de retirar felicidade de momentinhos, de atitudes espontâneas e possíveis, mas que nos recordam que somos humanos e seres gregários.




sábado, 24 de outubro de 2020

Que assim seja

 Hoje, neste dia em que o outono já entrou por estes lados do mundo adentro, a corrigir e a classificar trabalhos e a esbragulhar romãs, até me pareceu tocar em laivos de normalidade...

Que assim seja e que possamos sugar destes momentos toda a felicidade a que temos direito.




domingo, 11 de outubro de 2020

Pieces

 Se eu pudesse escolher um destes armários do ano passado, escolheria 


o último, aquele que refere "rapariga aos pedaços".

Pensando neste número tão redondinho do ano em que vivemos, deixei pedaços de mim no passado que me fazem falta agora. Ficaram restos em locais por onde passei e queria recolher; deixei momentos com gente com quem me cruzei e que queria recuperar, continuar; deixei pedaços de mim espalhados pelo meu mundo e por outros que não estão no "armário" do ano passado, estão em mim e não podem ser livres...

Posso escolher?

Cá por mim, a "nova normalidade" deveria ser molhada. Já que temos de levar com a Covid 19 e as máscaras sufocantes, o belo do álcool gel e o distanciamento social, então, que chova, pode até trovejar, vá, mas que a Terra toda seja refrescada, lavada, "purificada" por uma chuva benfaseja!

domingo, 27 de setembro de 2020

Só agora consegui, mãe...

 Desde que este mundo é nosso, a vida e a morte são irmãs que andam de mão dada, que não passam uma sem a outra. Não estão em pé de igualdade: assim que nascemos, podemos morrer; logo que morremos, não podemos nascer. 

Se vivemos mais ou menos, melhor ou pior, intensamente ou como um rio aprisionado nas margens, cada um sabe de si. Ou não.

Ser humano é poder experienciar emoções, vivências, doenças, fruir o tempo como podemos ou apenas como ele nos quer deixar viver.

Estes são tempos estranhos, dolorosos e intensos para mim. Acredito que não sou a única. Afinal, para todos nós, começa a ser banal vermos a vida e a morte de mãos dadas, olhando-nos de frente.

Às vezes, o único consolo é gritar ao coração que o amor permanece, que, quando alguém parte, pode ser o maior e derradeiro ato de generosidade para connosco.

No dia dos meus anos, foi a última vez em que eu e a minha mãe estivemos juntas. Voltei a vê-la na véspera da sua morte, mas ela já não esteve comigo.

Agora, está por aqui, ao jeito, quando eu preciso. 

 




terça-feira, 7 de julho de 2020

Porque é a vida


Qual é a asa que tenho para voar se não levanto meus olhos do chão?
Que céu é este na lonjura do meu olhar?
Abro a mão e deixo escorrer coração para fora do meu peito. Às vezes, dói. 
E o que é isso se não a vida?

?


Estou aqui, sentada à secretária, de frente para a janela, olho para o quintal muitas vezes, quando quero e involuntariamente, procurando uma palavra para avançar no trabalho ou simplesmente porque já se tornou rotina descansar o olhar no verde do meu quintal, entre tarefas de computador. 
Não sei se estou triste por já estar formatada para esta forma de estar/trabalhar ou porque sinto falta da escola, agora, nesta altura, em que os alunos já lá não estavam, mas cuja alegria ainda pairava no ar e nós andávamos a resmungar por tudo e por nada, fartos uns dos outros, loucos com os relatórios que temos de fazer, nestes finais de ano letivo.
Agora, na escola, vemos alguns de nós, poucos, fantasmas de máscaras, descartáveis ou mais coloridas (tentativa de colorir a nossa vida?), mas que nos impedem de nos reconhecer, de observar os nossos sorrisos, amarelos, verdes, não importa, os nossos sorrisos que nos estão vedados!
As escolas, agora, são casas-fantasmas de tempos idos, deixados à pressa  e contra a nossa vontade. 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Vamos?


Recordo fácil e recorrentemente locais, especialmente os da minha infância, aqueles que viriam a ser tão importantes para mim e eu ainda não sabia, as casas das minhas avós, a minha primeira escola, a casa da minha família na terra onde nasci, a árvore para onde subíamos nos intervalos da escola primária para onde vim morar, depois.. Locais mais ou menos importantes, mas que ficaram em mim para todo o sempre.
Sempre me conectei mais com locais do que com datas: é nos sítios que respiro-inspiro os sentimentos. Quem diz que não devemos voltar aos locais onde fomos felizes, não quer lambuzar-se de felicidade, nunca sentiu a satisfação a correr-lhe nas veias quando olha em volta e reconhece as cores, os sons, os cheiros... Mais, faço questão de levar aos meus chãos, quando é possível, quem eu gosto; partilhar os meus locais é a minha forma de partilhar a minha felicidade, o meu agrado.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

(Des)Romance


Ela nem era a mais bonita; nunca a olharia duas vezes, se, sem se conhecerem, se cruzassem na rua. No entanto, depois dos seus mundos se cruzarem, o seu olhar atento e perspicaz convidava a grandes conversas. Aquela mulher sabia escutar; o pensar de um era o pensar do outro e, quando completava as suas frases, fazia-o com a palavra exata ou a gêmea da que ele iria escolher. 
Tinham ambos os mesmos atores preferidos, era comum o seu prato favorito.
Quando se encontravam, a cumplicidade instalava-se entre eles e os silêncios não faziam doer, antes amalgamavam aqueles dois seres e só eles percebiam.
Ao fim de tantos anos de vida, até parecia que tinham nascido para se encontrarem neste mundo!
Só que não. Aquela era a mulher de um outro homem e tinham os filhos que não eram os seus. 
Vida tão estranha...

terça-feira, 23 de junho de 2020

Adeus


Nesta última aula síncrona (seja lá o que isso for...), despedi-me dos meus alunos de há 3 anos.
Não houve abraços, nem beijinhos, apenas falei, falei... Chorei, também. Este malvado vírus, que eleva as emoções à flor da pele! Chorei pelos meninos que conheci no 7.º ano e pelos jovens que deixo, 3 anos depois, cuja maioria não ligou a câmara a meu pedido, nesta despedida tão estranha e intensa. Disse-lhes, sobretudo, que focaria as minhas recordações nos alunos pré-pandemia, que são muito diferentes, alguns são mesmo diametralmente opostos destes miúdos desapegados, desempenhados, preguiçosos e desorganizados.
Iremos às nossas vidas. Bem ou mal, fizemos parte dos mundos uns dos outros. 
Espero que, daqui por uns anos, sorriam quando se lembrarem das aulas de português. Eu sei que irei fazê-lo quando os arrumar aqui, ajeitadinhos na gaveta das lembranças, no meu coração.


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Reflexões sobre luz

Entre tantas e tantas coisas que há na terra, quando vejo a luz da lua, apago qualquer escuridão.
Só que a luz da lua não é da terra; é do céu.
Fecho os olhos, penso na luz da lua, que é de prata, e constato que o céu azula tudo menos o sol. Então, se calhar, a luz da lua é um azul que a escuridão prateou...

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Nada do que é seria

E se eu, de repente, abrisse a porta de casa, escancarasse o portão e me fizesse à estrada?
Pararia só quando avistasse o mar; não o meu mar, mas o mar dos outros, o mar revolto, forte, que rasa as praias cobertas de pedras e cercadas de rochas.
Deixaria que as águas acariciassem os meus pés, as minhas pernas e me amassem, tal como eu as amaria..
Nada do que é seria e o céu estaria límpido só para mim.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Descobrimento

Uma das poucas coisas boas da pandemia foi esta descoberta. E olhem que eu sou muito seletiva!...

Chão(s)



Saboreou aquelas ruas e sorveu portas e janelas da sua infância, devagarinho e carinhosamente. Detalhou os olhos nos vasos de flores, nas frestas das janelas que desnudavam cortinas discretas, nas vozes que planavam pelas sombras dos beirais.
Era a sua terra! O pedaço de chão que a viu nascer há já muito tempo...
Metade dos seus, aventaram-lhes ao solo os seus ossos, por lá; a outra metade foi para outra terra, com outras gentes, mas os mesmos céus.
Escolheu viver no meio, nem num nem noutro chão. Aqui, onde vive, sente o aconchego do lar; cada vez mais, a sua terra é só o lugar onde nasceu. Ou então não, porque aquele amor que sai do seu peito cada vez que lá vai, não a deixa não voltar.

terça-feira, 9 de junho de 2020

P-A-L-A-V-R-A-S


Gosto de palavras.
Prefiro as pequeninas, podem ser ou não redondinhas, como "colo", "lua", "sol", "mimo", "mar".
Também amo "fogo", "brisa", "raio", que ondulam sempre que as busco.
E há palavras médias, que sendo nem grandes, nem pequenas me preenchem e afagam: "abraço", "sorriso", "ternura", "toque", "memória"...
São só palavras. Ou não.

Sim, mas não

Dizem que, sonhar com alguém que amamos e que já morreu, nos dá a confirmação de que esses entes queridos são anjos no céu a velarem por nós. O meu agnosticismo fecha-me essa porta com a imagem de um diabinho e de um anjo, em cada um dos meus ombros a contradizerem-se para  me incentivarem a acreditar no que cada um defende. Curiosamente, é o diabo que me tenta a esta crendice. O meu anjo da guarda é racional e confirma-me que tudo isto é treta...
Também me disseram que, quando sonhamos com alguém que vive ainda, temos essa pessoa a pensar em nós com frequência. Diz que são as energias.... 
Perguntei aos habitantes dos meus ombros, os tais de cores e opiniões diferentes. Neste assunto, já temos o amiguinho das alturas a confirmar a coisa. 
Ora, se nem os diabos e nem os anjos de cada um se entendem, como podemos nós, simples mortais e, ainda para mais, agnósticos, acreditar, tomar uma decisão que nos apazigúe?

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Daqui


Daqui da minha janela, vejo o bailado das folhas, nos ramos das árvores. Vejo pássaros a planar, contrastando com as nuvens no céu. Lá mais ao longe, as flores alaranjadas pintalgam as romãzeira; enfeitam o quintal antes de se tornarem frutos, daqui por alguns meses. 
Ainda há limões nos limoeiros, amarelinhos e de vários tamanhos, sorrindo o seu azedume.
Daqui da minha janela, o mundo desconhece o que é estar confinado. 


quinta-feira, 28 de maio de 2020

Repletas de esperança

Entrámos em confinamento na semana seguinte à Semana da Leitura; houve até várias atividades previstas que já não se realizaram. Posto isto, tínhamos livros espalhados por todas as 9 escolas do nosso agrupamento.
Assim, agora que já se desconfina alguma coisa, comecei o périplo de recolher livros, dinheiro de vendas, fazer o levantamento dos alunos que requisitaram livros para leitura domiciliária e podem mudar de agrupamento de escolas, enfim, tarefas que até poderiam dar-me alguma satisfação visto que vou às escolas, revejo pessoas com quem trabalho há já anos e que nunca mais tinha visto...
Mas não. Tirando a escola-sede, todas as outras estão vazias, ocas de vida, silenciosas em excesso. 
Uma escola é um cadinho de seres, que falam, sentem, gritam, brincam, aprendem e ensinam, até. As escolas do meu agrupamento, neste momento, são catedrais de incertezas, ainda que repletas de esperança...

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Copos



Temática aflorada esta semana e que se revestiu de alguma importância, a dimensão dos copos constantes no armário da cozinha revelou-se assunto polémico entre mim e a cria mais nova.
Sem ter ainda tido coragem de destralhar o móvel da sala de jantar, é lá que vegetam dezenas de copos de todos os tamanhos, feitios e funções. Na cozinha, empoleiram-se nas prateleiras, apenas, os que considerei necessários às rotinas da casa. 
Ora, sem eu ter entendido o motivo da reclamação escarninha, retenho apenas que "não se entende o motivo dos copos da cozinha serem todos do mesmo tamanho: ou muito grandes ou muito pequenos"!
Pasme o mundo, apesar de confinado: todos do mesmo tamanho, ou muito grandes ou muito pequenos?! 
Acredito piamente que haverá por aí outro vírus desconhecido que ataca as celulazinhas cinzentas. Ou, vai-se a ver, inflama é o nervo ótico...
(Nota da autora: esta publicação foi prometida à filha, logo após o episódio. Ou cá não estaria, pois então!)

sexta-feira, 22 de maio de 2020

A importância dos dedos


Ah, como são importantes os dedos! E são honestos, também, não mentem. Por isso, estico o dedo indicador e rodo-o para um lado e para o outro. Afasto a mão inteira, fecho os olhos para ver melhor e é então que passo, leve e demoradamente, o meu indicador pelo teu lábio superior. Até ao fim, para um lado e para o outro. O meu indicador já sabe de cor o teu lábio superior. Agora, desce naturalmente para o lábio inferior, o teu, pois claro, posto que é dele que tem saudades. Desenho-o com calma, assim como se fosse um pedaço de mim, desde sempre.
O caminho que os teus lábios me deram, aqui, assim, de olhos fechados, passo a passo com o meu dedo, fizeram de mim eterna peregrina da tua ausência.  

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Às vezes, é assim...




As borboletas dos meus olhos pousaram, livremente, no teu rosto imaginado e quedaram-se prisioneiras para todo o sempre... Quando a minha mão se ergue para junto dele, percebo que só estás presente em mim e não comigo. Mesmo assim, a minha mão plana e afaga-te, mima-te e desenha o perfil dos teus olhos, do teu nariz, vinca os teus lábios...
O teu rosto é uma vela acesa na ara da minha saudade. Abriste as portas dos meus olhos, deslizaste para o coração e fizeste dele o teu quintal. É de lá que espreitas o meu sorriso.
Queres ser o mar onde mergulho de prazer? 

terça-feira, 5 de maio de 2020

Dia da Língua Portuguesa, o primeiro

Há amores para todo o sempre. O meu amor pela minha língua é para todo o meu sempre. Quando decidi que queria ser professora, hesitei entre a História e o Português. E até nesse momento o meu idioma ganhou!
Gosto de pensar as palavras. Gosto de pensar nas palavras. E, depois, usá-las, possui-las, oferecê-las, construí-las, desconstruí-las... 
E a treta de que "uma imagem vale mais do que mil palavras" só se impõe porque as palavras habitam a imagem! A imagem só vive quando transformamos em palavras o que vemos, sentimos, desejamos... Tretas!
"Imenso", por exemplo. Estarei a sentir um desejo assim? É um olhar que estou a descrever? Falarei de desejo? Afinal, pode ser só um gelado? É o mar? 
Ah, as palavras!...
Viva a língua portuguesa!
Vivam todos os povos que falam português!
Viva quem quer aprender português!


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Meia feliz

A minha cocozinha mais nova vai ter de ficar ainda mais um mês a trabalhar em casa. Então, lá lhe disse que se ainda não tinha adoecido depois de 6 semanas fechada em casa do pai, certamente o bicho não tinha querido nada com ela. Que viesse para casa, para o pé de mim, que sou sua mãe e não tenho tido nenhuma filha por perto para implicar. 
Consegui convencê-la e fui buscá-la no sábado.
Agora, já só me afogo em saudades da cria mais velha, que não vejo há 2 meses...
Atingi a meia felicidade, pois então!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dia Mundial do Livro, o possível

Quando eu era miúda, há muitíssimo tempo atrás, não tinha livros em casa. Os meus pais têm ambos a 4.ª classe e nunca lhes deram valor (apesar de valorizarem o conhecimento...). Então, eu ia buscar livros emprestados a um pólo itinerante da biblioteca da Gulbenkian que existia na minha terra. Comecei a ser freguesa da biblioteca mal aprendi a ler. Aliás, acho que aprendi a ler para poder lá ir requisitar livros...  
Depois, a vida começou a ficar mais desafogada e já nos era possível comprar livros na terra para onde fomos morar, tinha eu 8 anos. Não podíamos comprar muitos, mas os amigos emprestavam uns aos outros (juntamente com os discos, eram uma forma excelente de nos visitarmos - Ó mãe, vou ali a casa da Gina levar este livro que ela me emprestou! Uma vez, zanguei-me com o namorado, deixei-o a falar sozinho e fui para  casa. A desculpa que ele arranjou para me lá ir bater à porta sem que a minha mãe desconfiasse, foi fingir que me ia emprestar uns discos!... Isto foi há mil anos atrás, bem entendido...). 
Também há mil anos atrás, passei a comprar livros em segunda mão, numa barbearia que era dois em um, tratava de barbas e cabelos e vendia-nos os livros a preços simpáticos. Nessa altura, papei de tudo, desde os clássicos aos livros de cowboys e romances de amor!
Não consigo quantificar o número de livros que já li; tampouco consigo imaginar quantos ainda gostaria de ter lido.
Se eu podia viver sem livros? Não, não podia!
Vivam os livros, os escritores e quem os ama!


terça-feira, 21 de abril de 2020

Gosto do som da tua voz



Gosto do som da tua voz 
ao telefone.
É suave,
intenso,
pleno...

Quando conversamos,
ao telefone,
só a tua voz permanece.
Não me distraio
com os teus olhos,
com os teus lábios...

Então,
a tua voz
invade
o meu corpo,
preenche-o,
apazigua-o.

                                                Maio 2006


domingo, 19 de abril de 2020

Tende vergonha, srs políticos!

Parece que há políticos que querem ir comemorar o 25 de Abril, na Assembleia da República. 
Logo lá, na casa da democracia!
Democracia é, também, ter deveres e direitos iguais para todos. 
Gostava de ser testemunha de uma conversa entre estes políticos que defendem esta comemoração e um dos médicos, enfermeiros, assistentes de ação médica que se esfalfam a cuidar de quem precisa, nos nossos hospitais; ou o que diriam à família daquele doente que, estando internado, não pode ter visitas; sim, e às famílias de todos os que já partiram e não puderam despedir-se dos seus entes queridos; também seria interessante escutar as palavras que seriam ditas a quem tem familiares em lares e não pode ir lá visitá-los...
Venham cá a minha casa e consolem-me de já não estar com as minhas filhas há um mês e meio, porque todos temos de fazer a nossa parte para combater esta pandemia...
Tende vergonha! 
O 25 de Abril é muito, muito importante, mas a solidariedade, a comiseração e a generosidade, neste momento em que a Humanidade corre riscos desta envergadura são-no muito mais!
Tende vergonha!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Autoestradas de lágrimas

Há pouco, tentei desbastar as minhas sobrancelhas, não prescindindo do espelho de aumentar e dos óculos, visto que, ao perto, sou tão cega como uma toupeira.
E lá fui levantando uma lente, baixando outra, espernicando, sem querer mas dolorosamente, a pele junto das minhas sobrancelhas farfalhudas, a tal ponto que uma lágrima escorreu pelo canto do meu olho esquerdo. Artilhada de tantos artefactos para aumentar a visão, tive oportunidade de ver o percurso luzidio e harmonioso que a lágrima foi deixando ao passar, no meu rosto. E achei tão bonito!
O pior é quando essa lágrima primordial constrói uma autoestrada por onde descerão muitas e muitas! 

terça-feira, 14 de abril de 2020

Tudo é foi

Uma gota de chuva veio por aí abaixo e deixou-se ficar, muito quietinha, no vão de uma janela. Era uma janela de madeira pintada de verde, que abria para um quintal, onde vivia um grande limoeiro que tinha dois empregos: fazer sombra e perfumar tudo em seu redor. Quando se fechava, a janela agasalhava o quarto pequenino de um menino muito, muito espantado.
Este menino, que se espantava com o voar dos pardais, a azáfama das abelhas, a dança das borboletas e tudo o mais que o seu olhar fisgasse, espantou-se, também, com a pequenina gota de chuva que se fincou na janela pintada de verde.
Com os seus dedinhos curiosos, deu -lhe um piparote e, como a gota de água apenas estremeceu de desdém, decidiu o menino que os seus olhos ávidos e inquietos teriam muito que aprender ali, na sua janela, com esta gotinha de água orgulhosa.
Levantou a sua mãozinha rechonchuda, mirou-a de um lado e do outro, escolheu o dedo indicador - que era aquele que mais lhe servia para ir apontando o mundo à sua frente - e, senhor de si e do seu dedito decidido como ele, carregou com força na gotinha de água, que se desvaneceu na madeira da janela, a tal pintada de verde.
O menino, pasmado, aprendeu, ali, à sua janela de frente para o limoeiro que tudo perfumava, que aquilo que pensamos ser assim, pode, num ápice,  passar a ser assado.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O meu reino por um abraço

Apesar do confinamento, aprendamos a gostar do confinamento.
Teremos dos nos adaptar, reinventar, repensar, transformar, enfim... Ao longo da sua história, o ser humano tem dado provas da sua capacidade de resiliência e acredito que, uns melhor, outros menos bem, vamos conseguir. Assim tenhamos saúde. 
Agora, sinto muito, muito a falta de um abraço!...

domingo, 12 de abril de 2020

Filha n.º 2

És o meu doce!
Menina saltitante,
terna,
de pele veludina...
A tua mão,
sempre estendida,
apertando a minha,
alenta a minha solidão!
De sorriso maroto,
marcas sempre
a diferença,
mostras-me sempre
o caminho,
trazes luz
à minha rotina,
enches de cor
os percursos
que tenho de trilhar...
(16/06/2003)

Filha n.º 1

Foste um raio de luz,
o primeiro
da minha vida.
Perco-me
no mar imenso
dos teus olhos,
na tua timidez
por detrás do sorriso
que assoma
aos teus lábios ternos.
A dureza,
que é carapaça
da tua insegurança,
exaspera-me
faz-me ser intransigente,
por vezes.
Não ligues!
De luta
em luta constante,
sabe-me bem
o ter-te comigo!
É o amor imenso
desta mãe
que é tua...
(16/06/2003)

sábado, 11 de abril de 2020

Comunguemos!

Nem o vento se atrevia a respirar por entre as veredas, por entre as esquinas das casas. O céu vestiu-se de cinzento, embrulhou o sol nas nuvens e mandou-o ficar quietinho, que esperasse melhores dias. Consta que, há mais de dois mil anos atrás, morreu um homem que foi importante para alguns outros homens. Consta que foi condenado à morte injustamente, apenas por ser justo e apreciado por alguns outros homens.Nem toda a humanidade apreciou esta história. Há homens e mulheres, de outros lugares do mundo, onde, se calhar há vento e o sol brilha, que veneram outro homem e outra história. 
Mas isso não quer dizer que a generosidade, a bondade e o perdão tenham cores diferentes. Nestes tempos intranquilos e temerosos, que possamos libertar os dons de humanidade com que todos nascemos. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Ensino vs Aprendizagem, ou vice-versa. É isto?

Este bicho mau que nos apoquenta há já que tempos e nos confina aos nossos lares não para de nos atormentar.
Já não bastava banir o toque, o beijo, teve de nos condenar ao afastamento do outro (pelo menos um metro, dizem os entendidos!), à estranheza de sermos confrontados connosco próprios a toda a hora e, agora, a nós, professores, à solidão do ensino à distância...
Eu quero lá saber do ensino à distância! Eu gosto é de ver as expressões dos meus alunos, gosto é de poder tocar-lhes nos ombros quando eles estão virados para trás, gosto é de olhar-lhes nos olhos e perceber se eles estão a entender o que estou a dizer ou o que estão a fazer, gosto é de explicar um qualquer conceito 3, 4 ou mais vezes, com gatafunhos no quadro até todos perceberem!...
A relação professor-aluno não se aconchega atrás de um qualquer dispositivo eletrónico!

Quase romance - the end

Perdoou-lhe.
Perdoou-lhe por não a querer, por não ter lutado por ela. Ninguém dá o que não tem e ele não tinha inteligência emocional suficiente para os perceber.
Perdoou-se a si mesma por tê-lo afastado, crendo que ele sentiria a sua falta e não desistiria dela, não desistiria deles, se tivesse realmente havido aquele conjunto (in)finito composto por aquele ele e por ela.
Sabia que pensava nela. No entanto, o seu orgulho e a sua insegurança não lhe permitiam a intrepidez de a chamar de volta.
Assim é a vida. E o sol levantou-se nesses dias todos. Como sempre.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Quase romance - 04

O facto de ele não lutar por ela, validou a sua decisão de o querer arrancar de si mesma...

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Quase romance - 03

Passados mais de dois meses sem ele, ela gostaria de o pensar menos, recordá-lo menos, acreditar mais que está melhor sem ele, que, afinal, não é o seu companheiro.
Se, vai-se a ver, o tempo ajuda a torná-lo numa memória, também esse malvado vai acrescentado mais e mais saudades...

domingo, 5 de abril de 2020

Receita para um dia de chuva


Tempo para o significado das coisas

Chove. O mundo à luz da chuva é intenso e brilhante.
Quando todos éramos nós e eu tinha de sair de casa, a chuva encanitava-me pelo desconforto de não ter braços nem mãos para as coisas que carregava comigo e só pensava no que não gostava.
Agora, da minha janela, observo os verdes a ficarem mais verdes, os telhados das casas a cumprirem a sua obrigação e tudo retoma o seu significado. 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Quase romance - 02

Tudo tem um fim.
Por vezes, temos a esperança que o fim se atrase, se enrede em hesitações, pequenos nadas que protelem o óbvio. 
Mas não... Quando as prioridades e o grau de investimento são diferentes, alguém de usar o final nesta f(r)ase da vida.
E assim, decidida, certa de que merece mais, de que quer o que ele não lhe consegue dar, arrancou-o de si e fê-lo partir, quem sabe se para chegar a ele próprio...

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Quase romance - 01

Lentamente, tudo foi surgindo sem euforias nem expectativas. 
Conversas, por vezes monologais - ela devia fomentar no género masculino a vontade de se ouvir... - idas à praia, com sandes de ovo e melancia aos quadradinhos.
E, assim, de mansinho, ela foi reparando na sua gentileza, nos seus olhos azuis.
Estranhou que ele demorasse um mês inteiro para a beijar, como se os afetos se medissem aos meses. Ela já se teria beijado há que tempos! Mas, depois, percebeu: os lábios abrem portas de desejos inadiáveis, urgentes, pungentes e foi fruindo tudo o que ia acontecendo.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Saídas precárias

A muito custo, contando com a ajuda dos ralhetes das netas que são muito mais válidos que os meus, lá convencemos o meu pai a não ir todos os dias ao pão fresco e  comprar o jornal.
Devido à situação de pandemia que nos atormenta a todos, desde dia 13 de março que assumi as funções de moça de recados.
Ora, hoje, dia de ir à farmácia comprar medicamentos em falta para a mulher doente cá de casa, fui encarregada de vários e distantes "mandados", como se diz lá no meu Alentejo. 
Pela primeira vez, coloquei máscara e luvas para a empreitada e fui, como de costume, à hora do almoço, porque é quando não há filas tão compridas. Tenho sempre muito receio de sair de casa e poder trazer o "bicho mau" para cá, correndo o risco de contaminar os idosos do piso de baixo, pelo que limito as minhas saídas a uma vez por semana.
E lá fui eu, a respirar por detrás da máscara, sentindo-me um Darth Vader ensopado... Ainda por cima, entornava-se água dos céus! Será o universo a querer lavar o mundo deste vírus? Nah, não me parece que consiga; não tinha sabão... O uso da máscara não me fez nada sentir um heróico elemento das equipas dos cuidados de saúde e que, diariamente, arriscam a vida para tratar de quem tem  disso necessidade. Eu era só alguém infeliz e desertinha por terminar as tarefas para poder voltar para casa! 
E gastei horas em filas, porque se é verdade que, à hora de almoço, não há tanta gente a fazer compras, também há menos funcionários nos locais, visto que eles também têm de almoçar!
Até nisto deixámos de ter qualidade de vida...

terça-feira, 31 de março de 2020

31

Fui mãe há 31 anos.
Ah e tal, se fosse bonito, diria que, ser mãe foi sempre maravilhoso, que foi a plenitude da minha vida, que os filhos são a melhor coisa que me aconteceu...
Neste dia - estranho, intranquilo e inseguro por causa da pandemia que o mundo está a experienciar, em que faz 31 anos que fui mãe, digo que, ser mãe TAMBÉM foi maravilhoso, que TAMBÉM me ajudou a atingir a plenitude da minha vida e que os filhos são TAMBÉM a melhor coisa que me aconteceu.
Parabéns, minha linda, insegura e fantástica filha mais velha!
Hoje, o que eu mais queria no mundo era poder abraçar-te!


Não, não estive moribunda!

A vida acontece e, parvoeiramente, achei que podia viver sem escrever.
A verdade é que sub-vivi. 
Sim, admito, tenho conseguido tirar felicidade das coisas, mas também não...
Assim, depois de ter percebido, na plenitude do ser, de que tudo é "foi", li-me que preciso de escrever, também. Respiro, como, rio, zango-me e escrevo. Às vezes, tenho escrito só com o pensamento ou só com olhos; com o coração, também, mas escrevo...
Então, neste tempo difícil, intranquilo e estranho, voltei aqui, onde posso plenamente ser.